Proprietários devem atentar para regularização ambiental

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Proprietários e possuidores de áreas rurais devem ficar atentos ao novo Decreto 8.235/2014, publicado em 5 de maio, para complementar as regras do Decreto 7.830/2012, que dispôs sobre o Sistema de Cadastro Ambiental Rural (Sicar) e o Cadastro Ambiental Rural (CAR), além de estabelecer regras aos Programas de Regularização Ambiental (PRA).

O recente decreto, que versa sobre regularização ambiental da cobertura vegetal, deve ser observado por quem tem de cumprir obrigatoriamente a cota de reserva legal e, em alguns casos, respeitar outras áreas de uso restrito e área de preservação permanente. Ele estabelece o prazo de um ano, isto é, até 5 de maio de 2015, para a inscrição no CAR do imóvel rural. Se verificada a existência de passivo ambiental e obrigações a cumprir, o responsável pela área pode solicitar a adesão ao PRA.

O documento formal de adesão ao PRA é o termo de compromisso, que deve conter as obrigações de manter, recuperar ou recompor as áreas de preservação permanente, de reserva legal e de uso restrito do imóvel rural, ou ainda de compensar áreas de reserva legal, bem como os demais requisitos mínimos fixados no Decreto 8.235. Embora o decreto explicite que a inscrição pode ser feita independentemente da contratação de técnico responsável, como o pedido de regularização deve ser feito o quanto antes, é recomendável avaliação prévia da área para determinação de localização e extensão desta, bem como para definição das possíveis medidas de eliminação do passivo. São elas: a recuperação, recomposição, regeneração e, apenas para reservas legais, a compensação.

À exceção da pequena propriedade ou posse rural familiar, é preciso apresentar a planta georreferenciada do perímetro do imóvel, das áreas de interesse social e das áreas de utilidade pública, com a informação da localização dos remanescentes de vegetação nativa, das áreas de preservação permanente, das áreas de uso restrito, das áreas consolidadas e da localização das reservas legais.

Por razões inerentes à política legislativa, foi estabelecido um momento de corte para apuração dos ilícitos ambientais cometidos antes de 22 de julho de 2008. A partir da assinatura do termo de compromisso, serão suspensas as sanções decorrentes dessas infrações. Quem firmou termo de compromisso anterior para regularização ambiental de cobertura vegetal poderá requerer ao órgão signatário a revisão, para que se adequem as obrigações ao Novo Código Florestal.

Por outro lado, as infrações cometidas após 22 de julho de 2008, relativas à supressão irregular de vegetação, continuam sujeitas às sanções previstas em lei e regulamento, independentemente da assinatura do termo de compromisso de que trata o decreto em análise.

Já os proprietários ou possuidores de imóveis rurais que firmaram o Termo de Adesão e Compromisso entre 10 de dezembro de 2009 e 17 de outubro de 2012, não poderão ser autuados com base nos dispositivos de proteção à vegetação e áreas protegidas, mas persiste para estes a obrigação do cadastramento.

Estados e Distrito Federal serão responsáveis pela fiscalização e monitoramento dos compromissos que firmarem. As penalidades para o descumprimento do termo de compromisso serão estabelecidas no próprio instrumento, sem prejuízo da imposição de outras sanções eventualmente suspensas com a adesão ao PRA.

Diante das novas regras, o Ministério do Meio Ambiente também publicou em 6 de maio de2014 a Instrução Normativa 2/14. Foram estabelecidos os procedimentos e requisitos gerais para o cadastramento das propriedades rurais no CAR e os detalhes de funcionamento do Sicar, visando disponibilizar e integrar os dados inseridos no CAR.

A instrução normativa inovou ao estabelecer que os órgãos ambientais possam desenvolver seu sistema próprio do CAR, utilizar os sistemas de cadastro já disponíveis no Sicar ou, ainda, desenvolver sistemas complementares. Vale ressaltar que não existem taxas federais para a inscrição dos imóveis rurais no CAR. A nova instrução normativa prevê a possibilidade do proprietário fazer uma única inscrição para os imóveis situados em áreas contínuas. Os situados em mais de um ente federado podem ter a inscrição no CAR efetivada naquele que contemple o maior percentual de sua área em hectare.

No caso de imóvel, cuja reserva legal já tenha sido averbada na matrícula, o titular estará dispensado da apresentação dos seus dados quando da inscrição no CAR junto ao órgão ambiental.

Após a inscrição no CAR, o proprietário do imóvel não poderá ser autuado administrativamente por qualquer órgão ambiental por supressão de vegetação, conforme já exposto. O cadastramento também permite receber crédito rural pelas instituições financeiras, o que não será permitido àqueles que não se inscreverem no CAR até 24 de maio de 2017. Em razão da premência dos prazos estipulados e penalidades impostas pela nova regulamentação, é fundamental aos titulares de propriedades e posses rurais buscarem a regularização ambiental de suas propriedades mediante a inscrição no CAR.

BRITO, Ana Carolina F. de Melo. CARNEIRO, Pedro S. de Franco. Revista Consultor Jurídico, 17 de setembro de 2014, 07:09. Disponível em http://www.conjur.com.br/2014-set-17/brito-carneiro-proprietarios-atentar-regularizacao-ambiental. Acesso em 17 Set. 2014.

CNJ derruba autorização para adventista fazer prova em separado

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O plenário do Conselho Nacional de Justiça decidiu, nesta terça-feira (16/9), não ratificar liminar que autorizou um adventista a fazer a prova para juiz em separado. O conselheiro Guilherme Calmon, que abriu a divergência, citou precedentes do próprio CNJ e do Supremo Tribunal Federal em que privilégio semelhante foi negado a integrantes de outros grupos religiosos.
Em seu voto, Calmon lembrou ainda jurisprudência internacional. “A Comissão Europeia de Direitos Humanos, em decisão paradigma, não encontrou ilegalidade alguma na demissão de servidor público, adventista do sétimo dia, pelo Reino Unido, por se recusar a trabalhar nos sábados.”
Com a liminar, concedida pelo conselheiro Fabiano Silveira (foto), o candidato pôde fazer prova do concurso para juiz substituto do Tribunal de Justiça do Ceará após o pôr do sol de sábado, dia reservado ao descanso e restauração pela Igreja Adventista do Sétimo Dia.
Silveira defendia a ratificação da liminar desde que observadas determinadas condições. Os candidatos que demandassem condições especiais para fazer os exames de acesso à magistratura em função da fé professada deveriam ingressar no local das provas no mesmo horário dos demais candidatos, permanecendo incomunicáveis até o pôr do sol, quando iniciariam o exame, com o mesmo tempo reservado aos demais postulantes ao cargo.
Como a votação indicou empate de sete votos favoráveis ao relator e outros sete em favor da divergência, o presidente do CNJ, ministro Ricardo Lewandowski, definiu o julgamento ao votar pela divergência. A decisão não implica na eliminação do candidato. Com informações da assessoria de imprensa do CNJ.
PP 0003657-86.2014.2.00.0000
Revista Consultor Jurídico, 17 de setembro de 2014, 05:37. Disponível em http://www.conjur.com.br/2014-set-17/cnj-derruba-autorizacao-adventista-prova-separado. Acesso em 17 Set. 2014

Jornais Eco Kids e Eco Teens serão produzidos por estudantes de Barra do Choça

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Na semana passada, ocorreu a primeira reunião para de implantação dos jornais em Barra do Choça. Estiveram presentes a articuladora do Centro Educacional de Barra do Choça – Extensão Primavera, Eliene Souza Lima, o diretor da Escola Municipal Adelieta Ramalho, Petrônio Amorim, a promotora de Justiça, Karina Gomes Cherubini e José Amorim, representando a Secretaria de Educação .

Jornais informativos, produzidos por alunos, em linguagem acessível e que buscam fazer com que o estudante leia frequentemente sobre o meio ambiente e se torne um ator social de defesa dele. Essa é a definição dos jornais ambientais Eco Kids e Teens, voltados para alunos matriculados no Ensino Fundamental I e Ensino Fundamental II, respectivamente, de escolas públicas (municipal e estadual) e privada. O projeto conta com a parceria do Governo Municipal, do Ministério Público, dos Conselhos Municipais, da Diretoria Regional de Educação (Direc-20), entre outras instituições.

Após iniciativa bem sucedida nos municípios de Ilhéus e de Vitória da Conquista, estudantes de Barra do Choça serão os próximos a participarem e contribuírem com o projeto que, por meio da produção dos jornais “Eco Kids” e “Eco Teens”, trabalha a educação ambiental nas escolas públicas de forma leve e interdisciplinar. As escolas indicadas para a realização dos jornais foram a Escola Municipal Adelieta Ramalho e o Centro Educacional de Barra do Choça – Extensão Primavera.

Na semana passada, ocorreu a primeira reunião para de implantação dos jornais em Barra do Choça. Estiveram presentes José Amorim, representando a Secretaria de Educação, o diretor da Escola Municipal Adelieta Ramalho, Petrônio Amorim, a articuladora do Centro Educacional de Barra do Choça – Extensão Primavera, Eliene Souza Lima, e a promotora de Justiça, Karina Gomes Cherubini. O encontro foi no auditório da Rede de Atenção e da Defesa da Criança e do Adolescente, na Praça Tancredo Neves, em Vitória da Conquista.

A partir de agora, as escolas se reúnem com corpo docente e definem quais alunos e professores farão parte do projeto. Haverá nova reunião em setembro, depois dos Jogos Estudantis, para definir mais detalhes e a temática central dos jornais. No final de outubro as escolas precisam apresentar a boneca final do jornal, que devem ser impressos no começo de novembro.

O Jornal Eco Kids é voltado para alunos da faixa etária de até doze anos, matriculados no Fundamental I; o Eco Teens, para alunos do Fundamental II. O diferencial do jornal/informativo é que os próprios alunos são os autores e os leitores das matérias. Com a publicação, busca-se fazer com que o estudante leia frequentemente sobre o meio ambiente, em linguagem acessível, em produções voltadas para a sua faixa etária, com a possibilidade de ser leitor-autor, o que contribuirá para torná-lo mais um ator social de defesa do meio ambiente.

O conselho editorial dos jornais é composto pela Promotoria Regional de Meio Ambiente em Vitória da Conquista, Secretaria de Meio Ambiente (Semma), Secretaria Municipal de Educação, Direc 20, Conselho de Acompanhamento do Fundeb e Conselho Municipal de Meio Ambiente.

BAHIA, Barra do Choça, 25 Ago, 2014. Disponível em http://barradochoca.ba.gov.br/?p=1818. Acesso em 15 Set. 2014.

Projeto de química orienta alunos sobre refeições saudáveis

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Projeto desenvolvido nas aulas de química contribuiu para mudar os hábitos alimentares dos estudantes do ensino médio do Instituto Estadual de Educação Aimone Soares Carriconde, em Arroio Grande (RS). “Os alunos tornaram-se mais críticos a respeito dos produtos vendidos na cantina e apresentaram sugestões de cardápio para a merenda escolar”, diz o professor Ivan Nunes Gonçalves, autor do projeto Alimentos, Eis a Questão!

De acordo com Ivan, ao estudarem conteúdos relacionados a termoquímica, os alunos tiveram a oportunidade de aprender sobre as calorias dos alimentos. Então, após discussões e debates sobre o cardápio da merenda da escola, sugeriram alterações. Dentre elas, a inclusão de frutas variadas. O professor explica que os estudantes organizaram diferentes cardápios, sempre atendendo às necessidades de calorias diárias recomendadas.

Além da conscientização dos alunos sobre a importância de uma alimentação saudável, o projeto acrescentou conhecimento sobre os processos de armazenamento e conservação de alimentos. Ivan destaca a realização de oficinas de rotulagem para ensinar pais e alunos a verificar, nos rótulos, os aditivos contidos nos produtos e se eles são necessários ou não. “Muitos alunos mudaram radicalmente hábitos alimentares e, além disso, passaram a realizar atividades físicas”, revela.

Integrante do grupo de vencedores da sexta edição do Prêmio Professores do Brasil, em 2012, o projeto foi proposto a partir da observação de diversos casos de obesidade infantil, hipertensão e diabetes na escola. Também motivaram a iniciativa os questionamentos dos alunos nas aulas de química — quais os alimentos mais saudáveis? Deve-se evitar os industrializados? Como entender os rótulos? 

As atividades incluíram palestras com nutricionistas e bioquímicos; produção de impressos informativos sobre diferentes tipos de gorduras e hipertensão; produção de vídeos e programas de rádio sobre alimentos e alimentação; cálculos estequiométricos (cálculo das proporções dos elementos que se combinam ou reagem) das calorias dos alimentos e realização de pesquisas na internet sobre tipos de gorduras e alimentos, entre outras atividades. Professor de química e de matemática, há 28 anos no magistério, Ivan leciona na Escola Estadual Ministro Francisco Brochado da Rocha.

Na visão do diretor do Instituto Aimone Carriconde, Carlos Alberto Pereira da Silva, o projeto é importante por orientar a oferta constante de alimentação saudável, compatível com as faixas etárias dos estudantes. Ele cita como exemplo o fato de a cantina da escola ter interrompido a venda de refrigerantes a partir da realização do projeto. 

“Ao falarmos dos benefícios surgidos com o projeto, questões como a escolha e o modo do preparo dos alimentos, classes, tipos e necessidade deste ou daquele alimento ficam evidenciadas, bem como a associação da atividade física à alimentação”, ressalta Carlos Alberto. Professor de educação física, com 25 anos de magistério, ele atua há seis na direção da escola.

SCHENINI, Fatima. Portal do Ministério da Educação, Brasília, 15 Set. 2014. Disponível em http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=20791. Acesso em 15 Set. 2014.

Imagem/Crédito: http://betoorcy.blogspot.com.br/2014/05/aditivos-nos-alimentos-trabalho-em-sala.html. Acesso em 15 Set. 2014.

Aplicação da insignificância em descaminho não pode ultrapassar o valor de R$ 10 mil

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O princípio da insignificância só é aplicável ao crime de descaminho – previsto no artigo 334 do Código Penal – quando o valor dos tributos não pagos for inferior a R$ 10 mil, limite que não pode ser alterado por portaria do ministro da Fazenda, mas apenas por lei.

Com esse entendimento, a Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) reformou decisão do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) para determinar o prosseguimento de ação penal em um caso de importação de mercadorias sem pagamento dos impostos, calculados em R$ 11.123,97.

O limite de R$ 10 mil foi instituído pela Lei 11.033/04 (que alterou a Lei 10.522/02) como valor mínimo para a Fazenda Nacional executar dívidas fiscais. Posteriormente, a portaria 75/12 do Ministério da Fazenda elevou esse valor para R$ 20 mil. Para o TRF4, se a administração fazendária decidiu não executar débitos abaixo de R$ 20 mil, esse também deveria ser o limite para a aplicação do direito penal aos casos de descaminho.

O Ministério Público Federal recorreu ao STJ contra a decisão do tribunal regional, que concluiu pela atipicidade da conduta em vista do princípio da insignificância e trancou a ação penal contra o importador.

Ressalva pessoal

O relator do recurso no STJ, ministro Rogerio Schietti Cruz, destacou que o tribunal, ao julgar em novembro passado o Recurso Especial 1.112.748 sob o rito dos repetitivos, manifestou-se pela possibilidade de aplicação do princípio da insignificância quando o valor do tributo frustrado não ultrapassar R$ 10 mil, seguindo assim o entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF).

Naquele julgamento, mesmo reconhecendo que a questão era pacífica no STJ e no STF, o ministro ressalvou seu entendimento pessoal, contrário à vinculação do princípio da insignificância ao valor da dívida mínima executável.

Ele criticou esse entendimento jurisprudencial, “que parte de uma opção de política administrativo-fiscal, movida por interesses estatais conectados à conveniência, à economicidade e à eficácia administrativas, para subordinar o exercício da jurisdição penal à iniciativa de uma autoridade fazendária”.

Schietti afirmou que a aplicação da insignificância a crimes tributários de até R$ 10 mil contrasta com os parâmetros adotados pelos tribunais em relação à “criminalidade de rua”, lembrando que o STJ já se negou a considerar insignificante o furto de uma colher de pedreiro avaliada em R$ 4,00 só porque houve escalada de muro para a prática do crime.

Cobrança administrativa

Segundo o ministro, a análise para a aplicação da insignificância não pode ocorrer unicamente sob a ótica da conveniência da administração tributária, pois o bem jurídico tutelado no crime de descaminho não é apenas o erário. Para ele, outros valores estão envolvidos, como o prestígio da administração pública, a regulação da balança comercial e a proteção à indústria nacional.

Além disso, afirmou, a opção da Fazenda de deixar de executar dívidas inferiores ao limite estabelecido não significa que o estado tenha perdoado o débito fiscal, o qual poderá ser cobrado administrativamente.

“Não há a declaração de extinção da dívida pelo estado, mas unicamente uma opção de não cobrar a dívida. Como, então, estabelecer para fins penais um valor considerado em sede executivo-fiscal, com base apenas no custo benefício da operação, se não houve, de fato, a renúncia do tributo pelo estado?”, indagou o ministro. 

Efeito retroativo

Em seu voto, Schietti destacou também que o STF, em julgamento recente, considerando a portaria do Ministério da Fazenda, admitiu a incidência do princípio da insignificância em casos de descaminho de até R$ 20 mil.

Entretanto, Schietti entendeu não ser possível que o ministro da Fazenda, por meio de portaria, altere o patamar fixado para o arquivamento de execuções fiscais, já que este valor foi estabelecido por lei e somente outra lei poderia mudá-lo – como ocorreu com as Leis 10.522 e 11.033.

Mesmo se a Portaria 75 fosse válida, acrescentou o relator, ela ainda assim não poderia ser aplicada retroativamente no caso julgado pela Sexta Turma, cujos fatos se deram antes de sua edição: “Não se trata aqui de norma penal mais benéfica, dotada de retroatividade. A norma penal está descrita no artigo 334 do Código Penal, que, em momento algum, foi modificado. O que sofreu alteração foi tão somente o critério utilizado pela Fazenda Nacional para o arquivamento, sem baixa na distribuição, das execuções.”

Considerando que o valor apurado no caso ultrapassou o mínimo previsto na Lei 10.522, vigente à época dos fatos, a Turma, por maioria, deu provimento ao recurso do Ministério Público para determinar o prosseguimento da ação penal.

BRASIL, Superior Tribunal de Justiça. Brasília, 14 Set. 2014. Disponível em http://www.stj.jus.br/sites/STJ/default/pt_BR/sala_de_noticias/noticias /Destaques/Aplica%C3%A7%C3%A3o-da-insignific%C3%A2ncia-em-descaminho-n%C3%A3o-pode-ultrapassar-o-valor-de-R$-10-mil. Acesso em 15 Set. 2014.

Inquéritos Civis crescem 50% no MP estadual em 2013, aponta CNMP

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O número de investigações civis abertas pelo Ministério Público nos 26 estados do país e no Distrito Federal cresceu 50% no ano passado se comparado aos inquéritos e procedimentos movidos em 2012, passando de 136,3 mil para 204,2 mil em oito grandes áreas. Meio ambiente e saúde lideram os temas (45 mil e 41,3 mil casos, respectivamente), seguidos de apurações sobre improbidade administrativa (33,3 mil).
As investigações geraram ao menos 25,2 mil Ações Civis Públicas, 7,2 mil Termos de Ajustes de Conduta e 6,8 mil recomendações em 2013. Setenta e três mil casos foram arquivados sem originar novas medidas. Os dados integram a publicação Ministério Público – Um Retrato, que será lançada nesta segunda-feira (15/9) pelo Conselho Nacional do Ministério Público. Em sua terceira edição, o balanço relaciona tanto as atividades desenvolvidas nos MPs dos estados quanto nos quatro ramos do Ministério Público da União — Federal, do Trabalho, Militar e do Distrito Federal.
A publicação aponta que, na área penal, o maior número de denúncias envolve crimes contra o patrimônio: 182,8 mil, ante 156,7 mil em 2012. Lesão corporal aparece em segundo na lista, com 92,4 mil peças acusatórias, crescendo 80% em relação às 51,3 mil do ano anterior. O número total de denúncias chegou a 822,6 mil, enquanto 1 milhão de casos foram arquivados.
Conforme o estudo, o número de promotores e de procuradores da Justiça nos MPs estaduais e no DF segue em média uma tendência constante, com tímidas variações. A região Centro-Oeste fugiu desse quadro ao registrar aumento de membros na primeira instância entre 2011 e 2013, de 820 para 1.034.
O CNMP recebe as informações mensalmente desde 2006, mas a compilação nacional começou depois que duas resoluções, de 2010 e 2011, fizeram as unidades e ramos do Ministério Público nacional padronizarem definições para permitir a comparação, segundo o promotor Michel Romano, coordenador da publicação e membro auxiliar da presidência do conselho.

RETRATO DO MP

INQUÉRITOS CIVIS E     PROCEDIMENTOS PREPARATÓRIOS

Meio AmbienteSaúdeImprobidadePessoa idosaPatrimônio públicoDireito do consumidorEducaçãoPessoa com deficiência452884136133393236012109316596136118093
* Outros 261,8 mil casos abertos entraram na definição "demais tipos" 

DENÚNCIAS OFERECIDAS

Crimes contra o patrimônioLesão corporalTráfico e uso de drogasPorte de armasCrimes contra a vida18000016000014000012000010000080000600004000020000020132012

O sagrado direito à água

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“Não faz sentido uma empresa pública ter ações comercializadas nas bolsas de Nova York e de São Paulo enquanto a população sofre sem serviços básicos. Antes de repartir lucros, é preciso investir e garantir que todos tenham acesso à água. O número de pessoas que ainda vive sem saneamento no Brasil, à sombra de uma sociedade que se desenvolve rapidamente é alarmante”.

Essas frases podiam perfeitamente fazer parte da troca de acusações que tem marcado a eleição. Mas não. Elas foram ditas terça-feira, em Genebra, num evento da ONU, pela portuguesa Catarina Albuquerque, representante da entidade para assuntos de saneamento. A empresa em questão é a Sabesp (Companhia de Saneamento de São Paulo), mas as críticas de Catarina atingem também o governo federal, por não estar cumprindo o dever de garantir direitos fundamentais à população. Os dados indicam que 114 milhões de brasileiros ainda não possuem uma solução sanitária apropriada.

A representante da ONU esteve por aqui no final do ano passado. Ela ficou dez dias visitando áreas carentes em Brasília, São Paulo, Fortaleza, Belém e Rio de Janeiro. Além de se reunir com autoridades e ouvir a versão de empresas e ONGs. Só agora o resultado do trabalho foi divulgado. Dentre outras coisas, ele revela que um abastecimento de água regular e de qualidade ainda é uma realidade distante para 77 milhões de pessoas. O equivalente a todos os habitantes da Alemanha.

No mesmo dia em que Catarina Albuquerque discursava na Suíça, a Sabesp divulgava os últimos números sobre o nível de água do Sistema Cantareira, que abastece a região. Ele caiu mais 0,4 pontos percentuais e atingiu a incrível marca de 10,1%. Em maio, quando a reserva técnica começou a ser usada, estava em 26,7%.

É verdade que São Paulo enfrenta o período mais seco em 45 anos, mas não dá para colocar a culpa toda em São Pedro. Há mais de dez anos os governos locais vêm sendo alertados para a necessidade de investimentos que reduzam a dependência do Sistema Cantareira. Antes de apelar para o volume morto, seria preciso iniciar um racionamento ou fazer com que os consumidores que gastam mais pagassem mais. Para complicar, as chances de o problema ser resolvido na temporada de chuvas são de apenas 25%. É preciso parar com as medidas paliativas e investir.

Um dos caminhos possíveis, inteligente e barato, é o chamado Pagamento por Serviços Ambientais (PSA). Foi o que fez, nos anos 80, o governo de Nova York. Eles tinham duas opções para melhorar o abastecimento da cidade: investir no tratamento da água poluída da bacia de Catskill ou na recuperação da qualidade via conservação e restauração. O primeiro caminho custaria entre 4 e 8 bilhões de dólares. O segundo, 1,5 bilhão. A escolha foi pagar os produtores rurais para que recuperassem as matas ciliares, recolhessem os dejetos dos animais e investissem em biodigestores. Hoje, Nova York tem o maior sistema natural de abastecimento de água dos EUA.

Experiências localizadas já existem no Brasil, usadas não apenas para a recuperação dos rios, mas também para a manutenção da biodiversidade e o sequestro de carbono. Foi graças ao PSA que agricultores do Acre abandonaram o uso do fogo na limpeza dos terrenos. Nem sempre os pagamentos são feitos em dinheiro. No Amazonas, os beneficiários trocam os serviços ambientais por rádios, geradores e treinamento.

O que falta no país é uma legislação que incentive e regulamente essas ações. Desde 2007 tramitam no Congresso vários projetos de lei com o objetivo de criar uma Política Nacional de Pagamento por Serviços Ambientais (PNPSA). Ela indicaria as áreas públicas e privadas que pudessem fazer parte dos projetos, os serviços a serem negociados, as formas de negociação e os tipos de contrato. Além de criar um fundo público e estabelecer os benefícios fiscais.

É esse o problema. A área econômica e a receita relutam em aprovar novos incentivos. Um movimento suprapartidário, envolvendo ONGs e entidades empresariais tenta fazer com que um texto de consenso seja aprovado. Ontem, o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) divulgou um documento defendendo a urgência do tema e sugerindo que a lei indique áreas prioritárias e incentive investimentos voluntários. Difícil acreditar que em época de campanha e com os ânimos exaltados algo venha a ser aprovado. Mas fica a certeza de que, assim como na saúde e em outras áreas, prevenir é sempre melhor do que remediar.

Fonte: VIEIRA, Agostinho. O Sagrado Direito à água. O Globo. 11 Set. 2014. Disponível em http://oglobo.globo.com/blogs/ecoverde/. Acesso em 13 Set. 2014. 

Imagem: http://sementecabocla.files.wordpress.com/2013/05/agua5.jpg. Acesso em 12 Set. 2014.

2050: como as mudanças climáticas afetarão nossas vidas

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Fonte: Youtube, Como as mudanças climáticas mudarão nossas vidas em 2050? Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=0QoZ8hh8-Qg. Acesso em 13 Set. 2014.

Aplicação de normas ambientais no tempo

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Aplicação de normas ambientais no tempo

Karina Gomes Cherubini

              Normalmente, os estudos de disciplinas jurídicas, em sua parte geral, iniciam pela análise dos efeitos da lei no tempo e/ou no espaço. Assim ocorre com o Direito Penal, cuja codificação inicia, em seus artigos 2º e 3º, tratando da lei penal no tempo e da aplicação da lei excepcional ou temporária (BRASIL, 1940). Não é diferente com o Direito Processual Penal, como pode ser visto no artigo 2º do Código de Processo Penal (BRASIL, 1941).
              Em linhas gerais, as disposições normativas materiais têm aplicação a partir da entrada em vigor da lei, mas não se aplicam a atos pretéritos. No caso do Direito Penal, prevalece o princípio da irretroatividade da lei, que tem foro constitucional, como pode ser visto no artigo 5º, inciso XL, da Constituição Federal (BRASIL, 1988), admitida a exceção de lei mais benéfica ao réu.
              Em relação às leis processuais, pode-se dizer que têm aplicação imediata, ultrapassado o período de vacatio legis, aplicando-se aos processos em curso, com preservação dos atos já praticados. Como explica Laurinda Gemas (2013, p.9),

A orientação geral no que diz respeito à lei processual é no sentido da aplicação imediata da lei nova, não apenas às ações intentadas após a sua entrada em vigor (ações futuras), mas a todos os atos que se venham a realizar futuramente, mesmo que esses atos devam ser praticados em ações pendentes.

              Quanto às leis processuais penais, a doutrina costuma apontar uma diferenciação entre leis genuinamente processuais e leis processuais materiais ou mistas. As primeiras cuidam de procedimentos, atos processuais, técnicas do processo. As leis processuais materiais, ao seu turno, são assim denominadas por estarem dispostas em diplomas processuais penais, mas tratarem de conteúdo de pretensão punitiva, como direito de queixa ou de representação, prescrição, decadência, perempção etc. (CERA, 2014). Quando tiverem esse “inafastável caráter penal”, o tratamento dado a essa norma há de ser o mesmo dispensado à norma de direito material, portanto, irá retroagir se se mostrar benéfica (MASI, 2011).
              O Direito Ambiental é ramo do direito difuso ou de terceira geração, já que os interesses defendidos não pertencem somente à categoria de interesse público (Direito Público) nem de interesse privado (Direito Privado)(SILVA, 2014, p.2). Não pode ser concebido dentro dos quadros do Direito tradicional, já que se relaciona transversalmente com os demais ramos, obrigando a que se leve em conta a proteção ambiental em cada um dos ramos do Direito (ANTUNES, 2011, p.24). Tal característica o define como “Direito Sistematizador”, que “faz articulação da legislação, da doutrina e da jurisprudência concernentes aos elementos do meio ambiente” (MACHADO, 2014, p. 58), também reconhecido como direito de coordenação entre os diversos ramos do Direito (ANTUNES, 2001, p.24).
              Isto não impede que utilize os regramentos dos demais ramos. Tanto que  não trata, especificamente, sobre conflito ou sucessão de leis ambientais no tempo. Quando pretende repressão de condutas ilícitas, serve-se, principalmente, das normas e construções doutrinárias de Direito Penal e Processual Penal, bem assim de Direito Administrativo.
              Os princípios da irretroatividade da lei penal mais gravosa ao réu e da lei vigente à época do fato (tempus regis actum), portanto, têm plena aplicação também nos ilícitos ambientais, que se dividem entre crimes, ilícitos civis e infrações administrativas ambientais.                  
              Como centro das tipificações ambientais, tem-se a Lei nº 9.605/98( BRASIL, 1998), criminalizando os crimes, e o Decreto Federal nº 6.514/2008 (BRASIL, 2008), apontando as infrações ambientais a serem reconhecidas na esfera federal. Os Estados e Municípios podem legislar sobre infrações ambientais, observadas as competências prescritas pela Constituição Federal e Lei Complementar nº 140/2011(BRASIL, 2011).  Outros diplomas legais também sancionam administrativamente condutas lesivas ao meio ambiente, em temas como água, florestas, fauna (LIMA, 2014), dentre os quais, exemplificativamente, aponta-se a Lei Federal nº 9.433/97 (BRASIL, 1997).
              No entanto, nada tratam sobre conflitos intertemporais de leis e, diante da situação concreta do ilícito ambiental, podem surgir dúvidas sobre a exata tipificação, sobretudo quando sob vigência de determinada legislação, a conduta era tida como lícita e, posteriormente, passou a ser vista como atentatória ao meio ambiente.
            Pode-se mencionar, a título de ilustração, a questão decorrente da alteração dos margeamentos dos rios.  O Código Florestal de 1965 (BRASIL, 1965) , em seu artigo 2º, a, considerava como área de preservação permanente as florestas e demais formas de vegetação natural situadas ao longo dos rios ou de qualquer outro curso d´água em faixa marginal mínima de 5(cinco) metros, para os rios de menos de 10 (dez) metros de largura. Posteriormente, por alteração promovida pela Lei nº 7.511/1986 (BRASIL,  1986), mantida pela Lei nº 7.803/1989 (BRASIL, 1989) o margeamento mínimo passou a ser considerado de 30(trinta) metros.
              Pode-se compreender que, no período de 1965 a 1986, reservada a faixa ciliar de cinco metros ao longo dos rios de menos de dez metros de largura, era possível a ocupação e construção no restante da propriedade, observada a área destinada à reserva legal. Dentro de um exercício regular do direito de uso, gozo e disposição do imóvel, edificações podem ter sido erguidas, bem como efetuado o plantio de culturas perenes.
              Ocorre que, devido às alterações legislativas posteriores, houve ampliação da faixa marginal insuscetível de ocupação ao longo dos rios e outras fontes d´agua. A falta de respeito a esse limite, com danificação de sua vegetação, antes contravenção penal (Lei nº 4.771/1965, em seu artigo 26, a) foi criminalizada pelo artigo 38 da Lei nº 9.605/98 (BRASIL, 1998), in verbis:

 Art. 38. Destruir ou danificar floresta considerada de preservação permanente, mesmo que em formação, ou utilizá-la com infringência das normas de proteção:
        Pena - detenção, de um a três anos, ou multa, ou ambas as penas cumulativamente.
        Parágrafo único. Se o crime for culposo, a pena será reduzida à metade.


              Em face dessas alterações, é importante a fixação precisa da conduta, para defini-la ou não sob a égide de determinada legislação permissiva ou repressiva.  Para melhor entender essa importância, ilustra-se com alguns exemplos e questionamentos.
              Supondo-se que determinado proprietário rural construiu sua casa e efetuou o plantio de culturas perenes ou de ciclo longo[1] antes de 1986, na faixa de vinte e cinco metros lindeira à área de preservação permanente, que era de cinco metros, pelo Código Florestal de 1965.  
              Com as alterações dadas pelas Leis nº 7.511/1986 (BRASIL, 1986) e  Lei nº 7.803/1989 (BRASIL, 1989), a faixa marginal de rios, destinada à preservação permanente, foi ampliada para trinta metros. A cultura perene e a edificação passaram a estar em área de preservação permanente e esta devia estar com cobertura vegetal nativa. A conduta de destruir a vegetação nativa para fins de plantio e construção da casa poderia ser tida como infração ambiental? O produtor rural poderia defender-se, alegando que o plantio e a construção foram feitos antes da modificação legislativa? Mesmo aceita sua defesa, haveria direito adquirido de permanecer com a cultura e a edificação nessa faixa marginal de terras, em detrimento da recuperação do meio ambiente natural?
              A partir de 1998, a ocupação da área de preservação permanente, com danificação ou destruição da vegetação nativa, passou a ser considerada crime. No caso hipotético que ora se descreve, suponha-se que a cultura perene continuasse intacta, assim como a edificação, ocupando áreas destinadas à vegetação nativa ciliar. Abstendo-se, para os efeitos deste trabalho, de analisar a prescrição, haveria crime? 
              O Código Penal (BRASIL, 1940), em seu artigo 4º,  define como tempo do crime o momento da ação ou da omissão e não do resultado. Pelo tempo da conduta, a resposta seria negativa: a destruição da vegetação nativa para o plantio de cultura perene e da edificação ocorrera entre 1975 a 1986, portanto, antes da Lei dos Crimes Ambientais. Vigeria o princípio da anterioridade da lei penal, pelo qual não há crime sem lei anterior que o defina (BRASIL, 1940).
              Se o plantio ou a edificação,  com destruição da vegetação nativa, na faixa dos vinte e cinco metros,  ocorresse entre 1986 a 1998, embora ainda sem a criminalização conferida pela Lei nº 9.605/98, já haveria contravenção penal, com base na Lei n° 4.771/65 (BRASIL, 1965).  Nesse interregno, pertinente recordar,  houve a ampliação da área de preservação permanente, alterando-se o Código Florestal.
              Assim, em síntese, em relação a edificações e plantações com destruição de vegetação nativa, a caracterização da ilicitude vai estar atrelada, também, ao tempo de sua realização. Haveria de se averiguar se a construção ou plantação à margem do rio (respeitando apenas cinco metros de distanciamento) era antiga, assim entendida aquela edificada ou realizada  antes de 1986. Nesse caso, fora construída ou realizada dentro do exercício regular de um direito. Todavia, se fora construída ou realizada entre 1986 a 1998, já configuraria infração ambiental e contravenção penal. Após 1998,  configuraria infração ambiental e crime ambiental.
              Mas se plantada antes de 1998, a cultura continuar no local depois desse marco temporal? E se a casa construída na beira do rio, ali permanecer, mesmo depois de 1998? Poderão ser vistas como infração continuada ou permanente? 
              Não se pode olvidar que, quando a consumação se protrai no tempo - e este prolongamento ocorre por vontade do agente - tem-se o crime permanente. Em outras palavras, a continuidade do comportamento delitivo ao longo do tempo caracteriza o crime permanente (BITTENCOURT, apud BOTTINI, 2012).  Tal caracterização acarreta alguns efeitos especiais, como possibilitar o flagrante a qualquer tempo, enquanto durar a permanência, e contagem da prescrição da pretensão punitiva com diferente termo inicial. Também implica a incidência imediata da nova lei penal sobre os atos em andamento, ainda que mais grave e prejudicial ao réu (BOTTINI, 2012). 
              No exemplo com o qual se opera, a destruição ou danificação da vegetação nativa, para a finalidade do plantio de cultura perene ou edificação fora efetuada antes da Lei de Crimes Ambientais. Seu efeito, no entanto,  é permanente: mesmo depois de 1998, a casa, que fora erguida a vinte metros do rio em 1985, permanece no local e está, por força de alterações legislativas, dentro de área de preservação permanente; o pomar, também. E se fosse vilarejo rural, finalizado em 1985? As atividades de manutenção do bem, que implicam o impedimento da regeneração natural na área de preservação permanente, constituem novo tipo penal ou são facetas de um crime permanente? Ou ainda, a partir de 1998, poderia ser um crime instantâneo de efeitos permanentes?
              Não há consenso nos tribunais. Sustentando ser crime instantâneo de efeitos permanentes,  já decidiu o Tribunal Regional Federal da 3º Região:  

(...)III. A degradação ou supressão de vegetação natural legalmente protegida configura conduta instantânea de efeitos permanentes, estendendo-se a destruição do meio ambiente de modo continuado no decorrer do tempo e persistindo a responsabilidade do proprietário ou possuidor de área degradada quanto à obrigação de conservar o patrimônio ambiental, não se falando em prescrição. Precedentes do STJ.(...) ((TRF-3 - AC: 1390 SP 0001390-42.2002.4.03.6102, Relator: DESEMBARGADORA FEDERAL ALDA BASTO, Data de Julgamento: 23/08/2013, QUARTA TURMA) (grifos não originais)
             
              Para o Tribunal Regional Federal da 4ª Região,  é crime permanente, já que  cada intervenção humana na área, mesmo que para a manutenção da edificação,  pode impedir a regeneração natural da vegetação.  Acompanhe-se o acórdão:

(...)4. A conduta típica descrita no artigo 48 da Lei Ambiental não constitui mero exaurimento da ação de construir em área não edificável, podendo o impedimento à regeneração da vegetação ocorrer de várias formas, além do ato de "construir". 5. Quanto a esse delito, considerado ilícito permanente, enquanto a construção continuar a impedir a regeneração da vegetação, não há prescrição, consoante o disposto no artigo 111 , inciso III , do Código Penal .(...) (TRF-4 - ACR: 18895320054047214 SC 0001889-53.2005.404.7214, Relator: VICTOR LUIZ DOS SANTOS LAUS, Data de Julgamento: 10/03/2011, OITAVA TURMA, Data de Publicação: D.E. 22/03/2011)

              Deixando, agora, de lado o aspecto criminal, passa-se a analisar o aspecto da sucessão de leis no tempo para fins de infração ambiental. A conduta descrita de edificação ou plantio de cultura perene em área de preservação permanente, efetuada entre 1986 a 1998, que ainda se encontre no local,           pode ser caracterizada como infração ambiental, com base na Lei nº 9.605/98? Basta ver que o artigo 70 desse diploma legal considera  infração administrativa ambiental toda ação ou omissão que viole as regras jurídicas de uso, gozo, promoção, proteção e recuperação do meio ambiente.
              Neste caso, mesmo sendo infração ambiental, a lei não poderia retroagir. Pelo princípio da irretroatividade da lei, o produtor  não poderia ser autuado com base nesse diploma legal. Mas poderia ser autuado por outros diplomas legais, vigentes entre 1986 a 1998,  inclusive pelo  Código Florestal de 1965, conjugado com a Lei nº 6.938/81, que sempre classificou como degradação da qualidade ambiental, a alteração adversa das características do meio ambiente,  penalizando o não cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção dos inconvenientes e danos .
              Agora, abstraídos tanto os aspectos de ser ou não crime, como de ser ou não infração ambiental, concentrando-se exclusivamente na verificação, em concreto, de edificações e plantações consolidadas em área de preservação permanente, deverão ser demolidas, removidas ou modificadas?
              Importa recordar que a função da área de preservação permanente é de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas, como prescreve a  Lei 12.651/2012 (BRASIL, 2012).
              Diante de sua extensão e profundidade, transcreve-se a explicação do Ministro Hermann Benjamin sobre área de preservação permanente:

(...) ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE CILIAR 2. Primigênio e mais categórico instrumento de expressão e densificação da "efetividade" do "direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado", a Área de Preservação Permanente ciliar (= APP ripária, ripícola ou ribeirinha), pelo seu prestígio ético e indubitável mérito ecológico, corporifica verdadeira trincheira inicial e última - a bandeira mais reluzente, por assim dizer - do comando maior de "preservar e restaurar as funções ecológicas essenciais", prescrito no art.225, § 1º, I, da Constituição Federal.
Aferrada às margens de rios, córregos, riachos, nascentes, charcos, lagos, lagoas e estuários, intenta a APP ciliar assegurar, a um só tempo, a integridade físico-química da água, a estabilização do leito hídrico e do solo da bacia, a mitigação dos efeitos nocivos das enchentes, a barragem e filtragem de detritos, sedimentos e poluentes, a absorção de nutrientes pelo sistema radicular, o esplendor da paisagem e a própria sobrevivência da flora ribeirinha e fauna. Essas funções multifacetárias e insubstituíveis elevam-na ao status de peça fundamental na formação de corredores ecológicos, elos de conexão da biodiversidade, genuínas veias bióticas do meio ambiente. Objetivamente falando, a vegetação ripária exerce tarefas de proteção assemelhadas às da pele em relação ao corpo humano: faltando uma ou outra, a vida até pode continuar por algum tempo, mas, no cerne, muito além de trivial mutilação do sentimento de plenitude e do belo do organismo, o que sobra não passa de um ser majestoso em estado de agonia terminal. 4. Compreensível que, com base nessa ratio ético-ambiental, o legislador caucione a APP ripária de maneira quase absoluta, colocando-a no ápice do complexo e numeroso panteão dos espaços protegidos, ao prevê-la na forma de superfície intocável, elemento cardeal e estruturante no esquema maior do meio ambiente ecologicamente equilibrado. Por tudo isso, a APP ciliar qualifica-se como território non aedificandi. Não poderia ser diferente, hostil que se acha à exploração econômica direta, desmatamento ou ocupação humana (com as ressalvas previstas em lei, de caráter totalmente excepcional e em numerus clausus, v.g., utilidade pública, interesse social, intervenção de baixo impacto). (...)
(STJ - REsp: 1245149 MS 2011/0038371-9, Relator: Ministro HERMAN BENJAMIN, Data de Julgamento: 09/10/2012, T2 - SEGUNDA TURMA, Data de Publicação: DJe 13/06/2013)

              Edificações e usos diversos da área de preservação permanente, que não mantenham sua vegetação natural, mas plenamente consolidados, como devem ser tratados?  A situação se agrava ainda mais, diante do advento da Lei nº 12.651/12 (BRASIL, 2012), que especificou a existência de áreas de preservação permanente também em zona urbana. Não se olvida a realidade histórica de urbanização de cidades, iniciadas e desenvolvidas a partir de construções às margens de rios (SANTA CATARINA, 2014) e o conflito com a Lei nº 6.766/79 (BRASIL, 1979), que previa o distanciamento dos loteamentos de quinze metros, de cada lado, de águas correntes
              Enfim,  o estudo da evolução legislativa e de seus conflitos temporais devem nortear, entre outros agentes, o Delegado de Polícia, membros do Ministério Público e o Juiz de Direito, na criminalização de ilícitos ambientais.
              No caso de infrações ambientais, importante considerar o enunciado nº 03 do Ministério Público de Santa Catarina, sobre Delimitação de APPs em Áreas Urbanas Consolidadas (SANTA CATARINA, 2014a) que recomenda que, para fins de decisão administrativa ou judicial, a escolha entre  demolição da construção, recomposição da área, correta ocupação (nas hipóteses de interesse social, utilidade pública ou direito adquirido) e regularização da construção, na hipótese de ausência de situação de risco ou interesse ecológico relevante, mediante a adoção de medidas compensatórias, deva ser feita a partir de diagnóstico ambiental, nos moldes preconizados pelo artigo 65, §1º, da Lei nº 12.651/2012 (BRASIL, 2012).  
              Em todos os casos, porém, sempre haverá conflitos entre direito de propriedade, direito de moradia e direitos adquiridos, quando as edificações ou atividades econômicas atenderam às exigências legais à época de sua realização, contrapostos à ordenação e controle do uso do solo, com redução de riscos e respeito à supremacia do meio ambiente.
              Serão solvidos com o emprego de critérios como razoabilidade, proporcionalidade e até flexibilização da legislação (SANTA CATARINA, 2014b),  desde que sempre presente que meio ambiente é bem intergeracional, devendo ser protegido não somente para as atuais gerações, com resolução dos problemas contemporâneos, mas também para as futuras gerações e que a propriedade não é direito absoluto e tem, nos termos do artigo 1.228, §1º,  do Código Civil (BRASIL, 2002),  função socioambiental de  preservar  a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitar a poluição do ar e das águas.



REFERÊNCIAS
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BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil -1988. Diário Oficial da União, 05 Out. 1988, P. 1 (ANEXO).
_____. Decreto n. 6.514, de 22 de julho de 2008. Dispõe sobre as infrações e sanções administrativas ao meio ambiente, estabelece o processo administrativo federal para apuração destas infrações, e dá outras providências. Diário Oficial da União, 23 Jul. 2008, p. 1.
_____, Decreto-lei nº 2.848, de 07 de dezembro de 1940. Código Penal. Diário Oficial de 31 Dez. 1940, p. 2391.
_____, Decreto-lei nº 3.689, de 03 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Diário Oficial de 13 Out. 1941, p. 19699.
_____, Lei nº 4.771, de 15 de setembro de 1965. Institui o novo Código Florestal. Diário Oficial, 16 Set. 1965, P. 9529.
_____, Lei nº 6.766, de 19 de dezembro de 1979. Dispõe sobre o Parcelamento do Solo Urbano e dá outras Providências. Diário Oficial da União, 20 dez. 1979, p. 19.457.
____, Lei nº 7.511, de 7 de julho de 1986.
Altera dispositivos da Lei nº 4.771, de 15 de setembro de 1965, que institui o novo Código Florestal. Diário Oficial,  08 Jul. 1986, p. 010049, anexo 1.
_____, Lei nº 7.803, de 18 de julho de 1989.
Altera a redação da Lei nº 4.771, de 15 de setembro de 1965, e revoga as Leis nºs 6.535, de 15 de junho de 1978, e 7.511, de 7 de julho de 1986. Diário Oficial de 20 Jul. 1989, p. 012025 1
_____, Lei n. 9.433, de 8 de janeiro de 1997. Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos, cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, regulamenta o inciso XIX do art. 21 da Constituição Federal, e altera o art. 1º da Lei nº 8.001, de 13 de março de 1990, que modificou a Lei nº 7.990, de 28 de dezembro de 1989. Diário Oficial da União, 09 Jan. 1997, P. 470
_____, Lei n. 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades
lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências.  Diário Oficial da União, 13 Fev. 1998, p. 1
_____, Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial da União, 11 Jan. 2002.
____, Lei n. 12.651, de 25 de maio de 2012. Dispõe sobre a proteção da vegetação nativa; altera as Leis nos 6.938, de 31 de agosto de 1981, 9.393, de 19 de dezembro de 1996, e 11.428, de 22 de dezembro de 2006; revoga as Leis nos 4.771, de 15 de setembro de 1965, e 7.754, de 14 de abril de 1989, e a Medida Provisória no 2.166-67, de 24 de agosto de 2001; e dá outras providências. Diário Oficial da União, 28 Mai. 2002, p. 1.
____, Lei Complementar nº 140, de 8 de dezembro de 2011. Fixa normas, nos termos dos incisos III, VI e VII do caput e do parágrafo único do art. 23 da Constituição Federal, para a cooperação entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios nas ações administrativas decorrentes do exercício da competência comum relativas à proteção das paisagens naturais notáveis, à proteção do meio ambiente, ao combate à poluição em qualquer de suas formas e à preservação das florestas, da fauna e da flora; e altera a Lei no 6.938, de 31 de agosto de 1981. Diário Oficial da União,  09 Dez. 2011, P. 1
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[1] Entende-se como cultura perene aquela  não necessita de replantio  para o próximo ciclo reprodutivo,  ocorrendo longo tempo entre a plantação e a renovação da lavoura (SALEMI, Luiz Felippe.  Cultura perene? Webartigos, 09 Set 2009. Disponível em http://www.webartigos.com/artigos/cultura-perene/24527/. Acesso em 30 Ago 2014.